As portas do domínio dos sonhos se abriram para todos: Sandman, a obraprima do escritor inglês Neil Gaiman, está entre nós. A série adaptada dos quadrinhos chegou à Netflix na última semana, trazendo para a história clássica da literatura de quadrinhos som e movimento. Publicado pela primeira vez em 1988, Sandman tem 75 volumes divididos em sagas especiais, que mostram como os sete perpétuos, entidades que representam nossos sentimentos, se comportam em meio aos humanos e criaturas.
Cheia de sensibilidade, substância e perspicácia de seu autor, Sandman se tornou um dos quadrinhos mais celebrados do universo geek e cultura pop, tendo ganhado 26 vezes o Prêmio Eisner.
Em mais de 30 anos, Sandman foi tida como uma obra tão complexa que precisaria ser adaptada com cuidado.
Neil Gaiman, seu escritor, nunca deixou de acompanhar as tratativas sobre uma possível adaptação cinematográfica, sem abrir mão de participar diretamente dela. O primeiro ensaio para que Sandman ganhasse vida nas telas foi em 2013, que fracassou antes de virar realidade.
A Netflix conseguiu tornar o sonho de muitos fãs realidade em 2022, com a estreia do programa em todos os países em que a plataforma está presente. No Brasil, a obra está em primeiro lugar entre as mais assistidas, assim como em outros países.
Neil Gaiman agradeceu diretamente aos fãs brasileiros, lembrando que o Brasil foi o primeiro país a ganhar uma reedição do quadrinho original, uma adaptação sempre elogiada pelo britânico, pela Editora Globo.
Destino, Morte, Sonho, Destruição, Desejo, Desespero e Delírio, os perpétuos, são seres que vagam pela existência humana representando conceitos. Criaturas que, como ressalta o Sonho, são criadas para servir os humanos, e não o contrário.
A série da Netflix resolveu adaptar duas sagas dos quadrinhos, tendo como protagonista o rei do Sonhar, Morpheus, o Sandman, que dá título à obra. Nas duas histórias, Morpheus se vê em situações de perigo em que seu reino é posto em risco. Nas “anedotas” da entidade, o autor deixa clara sua intenção em trabalhar Morpheus não só como um personagem com características humanas, mas também como o próprio ato de sonhar, que nos é colocado à prova durante nossa passagem na terra. Também somos apresentados à Morte, irmã mais velha de Sonho, que possui o papel de fazer o ciclo da vida continuar.
“Sandman” é assustadoramente fiel aos quadrinhos de Neil Gaiman, tanto pela sua estética e pelo seu texto. Nas imagens, é possível ver que a influência surrealista está presente, mas não a ponto de deixar as cenas não palpáveis. O texto de Gaiman é reproduzido em sua fidelidade, fazendo com que a série não perca conteúdo algum para os quadrinhos.
A série é uma perfeita porta de entrada para aqueles que desejam de embrenhar nos quadrinhos, que também são um convite para a obra literária de Neil Gaiman, autor também de “Deuses Americanos”, “Coraline”, entre outros marcantes livros da literatura moderna.
Ainda que seja uma obras fiel, “Sandman” possui algumas mudanças que fizeram a diferença para o melhor. O “casting” da série é etnicamente equilibrado, com uma maior presença de atrizes e atores negros, além da mudança de gênero de John Constantine, que na série, é Johanna Constatine. Sútil e de bom tom.
Ainda que não tenha sido renovada para uma segunda temporada, Neil Gaiman reforça
que, caso a Netflix venha a cancelar a série, ela irá para outra plataforma. A possibilidade é remota, já que “Sandman” já é um dos maiores sucessos comerciais da plafatorma digital de streaming.