Moradores do Jardim Nova Esperança, o Banhado, em São José dos Campos, cobram indenização das casas e esclarecimento sobre a ação da prefeitura na última terça-feira (23), quando demoliu até sete moradias.
Um deles, membro da comissão da comunidade, falou em entrevista a OVALE que a ação foi logo pela manhã e que a Urbam (Urbanizadora Municipal) e a Polícia Militar chegaram e iniciaram as demolições, sem informar nada.
“A ação foi aterrorizante. Começaram às 8h. Quando cheguei, já tinha metade de uma casa, um monte de policiais e a Urbam. Eles estavam batendo o martelo, foi demolido a mão devido ao acesso. Não deu nem tempo de os moradores chegarem, fizeram contenção e essas casas tinham cadastro desde 2014, que assegura o morador”, comentou Lucas kuschausky Silva.
De acordo com Lucas, que mora no Banhado há quase 30 anos, a prefeitura fez um levantamento social em 2014 que assegurava a moradia dos moradores, uma lista com 297 famílias, mas que hoje essas famílias cresceram.
“Eu estou desde 1993. Meu pai, quando veio, montou o comércio, é morador e comerciante. Agora, o processo de regularização está desde 2018 e os moradores são antigos. Nessa disputa pela prefeitura, querendo tomar o local, ela se juntou à PM [Polícia Militar] e GCM [Guarda Civil Municipal]. Ontem, vieram armados e tinham umas casas na lista, porém são casas antigas, da década de 80, reboque feito com barro amarelo junto ao cimento.”
O morador Renato Leandro, que acompanhou o caso, afirmou que a prefeitura nunca quis regularizar a área e que não tinha ação judicial. Segundo ele, faltam explicações sobre a ação e que as unidades eram de famílias com crianças.
“Me senti mal em relação à ação de ontem (terça). Entrarem aqui, abrindo o portão e demolindo casas que são ocupadas por famílias. Tem uma mulher com sete filhos e a prefeitura precisa ressarcir isso, reconstruindo a casa. O morador não quer indenização, quer a casa de volta”.
Como integrante da liderança da comunidade e morador há 26 anos do Banhado, Renato também citou um projeto de duas universidades sobre a urbanização do Banhado, como uma solução para a regularização fundiária, mas que nunca tiveram um retorno do poder público.
“Tem um trabalho feito pela Univap e USP de São Carlos, apresentando um plano de regularização fundiária da área. Eles mapearam a área e fizeram um estudo técnico das áreas preservadas e como um bairro funciona, acessibilidade, praça, toda estrutura urbana. Mas a prefeitura nunca dialogou sobre a possibilidade desse projeto. Tem outro interesse financeiro”.
Procurada por OVALE, a prefeitura informou que não vai comentar o assunto.
(Foto: Arquivo Pessoal / Lucas Kuschausky Silva)